Caros colegas e amigos,

O mundo está a atravessar uma crise profunda devido a esta terrível pandemia causada pelo covid-19.

Diariamente, chegam-nos relatos e testemunhos impressionantes de quem está no terreno a lutar contra esta pandemia. Muitos médicos, enfermeiros e auxiliares que estão na linha da frente, apesar de estarem a dar o seu melhor, são confrontados com enormes dificuldades que vão desde os escassos recursos materiais e humanos, até ao sentimento de impotência para salvar os casos mais graves.

Estou certo que muitos de nós estarão também envolvidos diretamente nos hospitais e nos centros de saúde a tratar e a cuidar não apenas dos doentes infetados com covid-19, mas também dos outros doentes que não podem ser esquecidos, nem prescindir dos nossos cuidados.

Aos nossos associados-estudantes, olhem para este momento trágico com um forte sentido de responsabilidade face à vocação profissional que escolheram abraçar, pois ser médico obriga a muitos sacrifícios e uma enorme dedicação ao bem-comum.

Perante este período difícil, e sem a possibilidade de participarmos pessoalmente na eucaristia, mais do que nunca precisamos de fortalecer as nossas orações e a união espiritual com toda a Igreja.

Neste contexto trágico, julgo ser oportuno citar um excerto do documento publicado em 2014 pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz, a propósito da emergência à resposta da epidemia do ébola: «A Igreja tem uma capacidade única e o mandato de prover às necessidades físicas, emocionais e espirituais dos doentes e sofredores. Alguns na Igreja são chamados a servir como «médicos do corpo», outros ao contrário recebem a chamada para servir como «médicos da alma».

Este é um momento para valorizarmos a vida e a solidariedade para com os mais frágeis. O Papa Francisco referiu nesse mesmo ano, num discurso proferido ao congresso de cirurgia oncológica, o seguinte: «A partilha fraterna com os doentes abre-nos à verdadeira beleza da vida humana, que inclui também a sua fragilidade, de modo que possamos reconhecer a dignidade e o valor de cada ser humano, seja qual for a condição na qual se encontre, desde a concepção até à morte».

Deus está atento e sempre presente nas nossas vidas. Ele vai-nos dando sinais que devemos saber interpretar. Não deixa por isso de ser curioso que poucas semanas após ter sido aprovada a lei da eutanásia no nosso país, os mesmos políticos que a defenderam venham agora, neste período de pandemia, pedir-nos sacrifícios para «salvar vidas humanas». Só não percebe quem não quer, pois a mensagem de Deus é clara: a Vida tem sempre o mesmo valor e deve ser defendida, desde a concepção até à morte natural.

Sabemos que, na história dos países, as grandes crises são também momentos de mudança e de reconstrução, conduzindo muitas vezes a períodos de crescimento e prosperidade. Na vida das pessoas passa-se algo semelhante. As grandes mudanças são habitualmente antecedidas por um período de sofrimento, uma vez que ninguém muda se «estiver tudo bem». Os momentos de crise acabam por se tornar períodos de reflexão e de crescimento individual, nos quais se hierarquizam prioridades, e se fazem novas escolhas. Acredito que para muitos, confrontados com este período de provação e de grande fragilidade, esta é uma boa oportunidade para se aproximarem de Deus e de mudarem as suas vidas, convertendo-se.

Gostaria de vos pedir para darem testemunho da nossa Fé, transmitindo conforto e esperança aos vossos doentes, familiares e amigos, garantindo-lhes que esta crise é temporária e será seguramente ultrapassada, inspirados com a certeza de que Deus nunca nos abandonará.

Pedro Afonso
Presidente da AMCP

Lisboa, 22 de março de 2020