No Natal vamos voltar a ouvir os anjos a proclamar: "Glória a Deus no céu e paz na terra aos homens de boa vontade" (Lc 2, 14). Em cada ano, o eco deste cântico enche o mundo, despertando em nós uma alegre esperança.


Acima de tudo, porque a paz se tornou próxima e podemos contemplá-la no rosto de um Menino: “Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços. Naquela fraqueza e fragilidade, esconde o seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja. O nascimento duma criança suscita alegria e encanto, porque nos coloca perante o grande mistério da vida” (Admirável Sinal, Carta Apostólica do Papa Francisco sobre o presépio, n. 8).


Há dois mil anos “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 7). O nascimento de Jesus tornou-se insuportável para os prepotentes do seu tempo e Herodes decretou o martírio das crianças inocentes (cf. Mc 2, 16). Também agora muitos não O querem receber quando não acolhem com respeito o mistério da vida humana, imagem de Deus.


Mas Deus não desiste do mundo. E continua a bater à porta dos corações. E para proteger a vida, querendo contar com todos, certamente que conta particularmente com os médicos, nesta nobre profissão que abraçámos e que nos compromete especialmente com a protecção da vida, desde a concepção até à morte natural. Não nos conformemos com a actual situação da nossa sociedade, nem com as iniciativas legislativas que se avizinham e que só podem piorar o respeito que a vida humana merece. Nem percamos a esperança, porque Jesus vem para nos salvar.


Precisamos por isso desse Menino que os anjos anunciaram como o Salvador (cf. Lc 2, 11). O Menino Jesus quer entrar nas nossas vidas, para as transformar. Pensemos se temos lugar para Deus na nossa vida, se as nossas acções e as nossas palavras reflectem a nossa união com Deus. Se aqueles que nos conhecem podem dizer que somos cristãos, pela coerência da fé que professamos com as obras que realizamos.


Contemplemos o mistério do Natal. Dediquemos tempo para rezar e a pensar se nas nossas vidas há disponibilidade para os planos de Deus. Vale a pena! Jesus veio ao mundo para que os homens “tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Como escreveu o Papa Francisco “o Presépio, ao mesmo tempo que nos mostra Deus tal como entrou no mundo, desafia-nos a imaginar a nossa vida inserida na de Deus; convida a tornar-nos seus discípulos, se quisermos alcançar o sentido último da vida” (Admirável Sinal, Carta Apostólica do Papa Francisco sobre o presépio, n. 8).


Rezo por cada um e desejo a todos um Santo Natal e um Ano Novo 2020 com muitas bênçãos do Deus Menino.


Pe. Miguel Cabral
 

23 de Dezembro de 2019

Imagem: “A adoração dos pastores”, de Caravaggio