A Mariana Aragão Morais Megre tem 25 anos, vive em Lisboa e termina o curso de medicina no próximo dia 8 de Julho. É a nossa convidada deste mês d´A Entrevista (de)Vida.
“Sempre quis ser médica. Na verdade, já fui médica de bonecas, e sempre soube que a minha vocação era estar perto das pessoas e lembro-me de ter um momento em que tive que discernir sobre enfermagem e medicina”, conta a nossa entrevistada, em final de mais um ano letivo em Portugal.
Durante o curso, a sua primeira paixão foi a anestesia, depois a psiquiatria e trocou as duas pela oncologia pediátrica e pelos cuidados paliativos. “Ainda assim, não faço grandes planos, estudo todos os dias e confio que a oração me guiará na minha escolha. Quero ser feliz e fazer os outros felizes”, conta a nossa associada AMCP desde abril de 2018 [associado-estudante], aluna da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
As maiores felicidades pessoais e profissionais lhe desejamos, Mariana.
"Rezem por mim e pelos futuros médicos!"
Mariana Megre
Como conheceu a AMCP e que relevo tem para si a identificação com esta associação profissional católica?
Conheci a AMCP através de uma conferência sobre a Ideologia do Género, organizada por um grupo de amigos. Um dos oradores era o doutor Pedro Afonso, e foi através da sua apresentação que fiquei a conhecer a AMCP. Na altura estava a meio do curso e já sentia alguma necessidade de conciliar a minha vocação na medicina com a fé. Desde então, gosto muito de ler a revista e aguardo o dia em que participarei numa atividade da AMCP.
Nas faculdades, o estudante que entra pela primeira vez no ensino superior e que pretenda juntar-se a outros colegas católicos de que forma o pode fazer?
"Fala de Cristo apenas quando te perguntarem! Mas vive de tal maneira que te perguntem por Cristo!" Não conheço a dinâmica das outras faculdades, mas acredito que seja muito parecido. Na verdade, acho que quando entramos para a faculdade, conhecemos sempre alguém que vai entrar no mesmo ano que nós. Esse alguém conhece, outra pessoa. E assim sucessivamente. Numa semana, já tivemos muitas horas de conversa, e é impossível não conhecer os nossos novos colegas católicos. O amor a Deus junta-nos!
Posteriormente, temos duas grandes organizações que, a meu ver, são uma ferramenta essencial. Os núcleos de estudantes católicos e a Missão País. Na minha faculdade, o núcleo de estudantes católicos orienta os grupos de bioética para pensar, refletir e debater assuntos atuais e controversos na sociedade e entre os profissionais de saúde, organiza noites de oração, missas, conferências, entre outras atividades. Por outro lado, a Missão País, "é um projeto católico de universitários que tem como objectivo levar Jesus às Universidades e evangelizar Portugal através do testemunho da fé, do serviço e da caridade".
Neste tempo diferente que vivemos com a covid-19, como correu a adaptação a esta nova forma de ser (e viver) estudante ?
Estou num ano especial! O facto de ter o exame de entrada para a especialidade em novembro, e como consequência, a necessidade de muito estudo, aproveitei a quarentena e o estar "fechada em casa" para estudar. Na verdade, ocupei todo o meu tempo a pôr a matéria em dia (que confesso que me libertou alguma ansiedade), estar com a minha família, e a ajudar a fundar um projeto de apoio aos lares de idosos, o COmVIDas.
Os momentos que mais me marcaram, foi a peregrinação virtual com o SAIREF (campo de férias católico), um retiro organizado pelas Servas de Nossa Senhora de Fátima e rezar o terço, presidido pelo Dom Tolentino de Mendonça, com mais de 1000 jovens das Equipas de Jovens de Nossa Senhora.
Tem sido referido, por diferentes vozes, de áreas diferentes, que estes tempos de pandemia, mais do que nunca, colocaram em evidência a profissão médica, mostrando a valentia, o respeito, a dedicação ao doente, valorizando assim os médicos, como profissionais e como pessoas. Qual a sua interpretação?
“É importante que se mantenha a dignidade da nossa profissão e é fundamental que seja valorizado o trabalho que fazemos todos os dias”, disse Miguel Guimarães
No geral, temos muito tendência a desvalorizar. Em boa verdade, só damos valor quando já não existe ou quando o cerco aperta. O aparecimento da pandemia Covid-19 em Portugal, para além de sintomas, veio acompanhada de notícias assustadoras de outros países, preocupação face às capacidades do SNS, dúvidas em relação ao desconhecido e medo de morrer. Por conseguinte, o papel dos profissionais de saúde e as suas condições de trabalho tornam-se nitidamente visíveis e audíveis.
O ser católico pode ser diferenciador no exercício da profissão médica?
O que é que Jesus faria se estivesse aqui?. Gosto de pensar assim no meu dia a dia.
Com disse o Papa Francisco, Jesus era o "Doutor das pessoas", "a sua missão era antes de mais nada estar perto dos doentes ou portadores de deficiência, especialmente daqueles que, por este motivo, eram desprezados e marginalizados. Com esta proximidade compassiva, Ele manifestava o amor infinito de Deus Pai por seus filhos mais necessitados”.
Voltando a citar o Papa Francisco, porque é nisto que acredito e é por isto que me guio, “Podemos e devemos aliviar o sofrimento e educar todos para se tornarem mais responsáveis pela sua saúde e pela saúde dos vizinhos e parentes. A cura significa respeitar o dom da vida desde o início até o fim. Nós não somos os donos: a vida é confiada a nós, e os médicos são seus servos”.
Para além de saber a fisiopatologia, as manifestações clínicas, os exames complementares de diagnóstico e a terapêutica, não me quero esquecer, nunca, da importância da relação, da dedicação e da empatia com os doentes, as suas famílias e com os restantes profissionais de saúde. Acreditar em Deus, e ter Jesus como exemplo, ajudar-me-á a cumprir este dever.
Nos tempos livres, a Mariana gosta de pintar, fazer desporto e de estar com os amigos