COMUNICADO DA AMCP

Os cuidados paliativos não podem ter listas de espera

Médicos Católicos alertam para os riscos de desinvestimento nos cuidados paliativos, caso a eutanásia seja aprovada no parlamento.

A Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) reitera a sua oposição à legalização da eutanásia em Portugal, matéria cuja discussão está agendada para o próximo dia 20 de fevereiro na Assembleia da República (AR).

A AMCP considera que esta lei coloca os doentes com doenças graves e incuráveis numa situação de enorme pressão para pedirem a eutanásia, já que a maioria da população não tem acesso aos cuidados paliativos. A legalização da eutanásia não poder servir de pretexto para atenuar a consciência social da importância e urgência de alterar esta situação.

Muitos doentes, de modo particular os que se encontram numa maior solidão, serão pressionados a requerer a eutanásia, porque sem um adequado apoio no fim de vida, sentir-se-ão inúteis e mais um fardo para a sociedade. O Estado, ao não garantir um apoio universal nos cuidados paliativos, irá precipitar que estes doentes caiam no desespero, desistam de viver, e peçam a eutanásia.

O SNS apresenta enormes deficiências e uma parte significativa da população está em listas de espera a aguardar consultas e cirurgias. Todos queremos ter a oportunidade de ter uma morte assistida. Por conseguinte, a AMCP sublinha que os cuidados paliativos não podem ter listas de espera. Atualmente, não existe no SNS uma resposta adequada neste tipo de assistência à população. Devemos defender uma morte assistida em vez de se cair no facilitismo de se promover uma vida abreviada.

A eutanásia e o suicídio assistido não são tratamentos médicos!

Não compete à medicina dar respostas sobre o sentido da vida, mas sim tratar as doenças, cuidar e aliviar o sofrimento humano. A eutanásia e o suicídio assistido não são tratamentos médicos. A AMCP acredita que não cabe, por isso, aos médicos assumirem o papel de autênticos carrascos, executando um homicídio, ainda que ele ocorra a pedido do doente e tenha cobertura legal.

A experiência de outros países que legalizaram a eutanásia não é positiva e o número de casos não pára de aumentar. A eutanásia foi aplicada inicialmente para situações restritas, mas a verdade é que se têm alargado cada vez mais os critérios que justificam estes pedidos. Existem enormes riscos de se replicar no nosso país este fenómeno de rampa deslizante (slippery slope).

Através da eutanásia, a vida dos doentes perde valor com uma grande facilidade, a morte é banalizada, criando-se um verdadeiro genocídio dos mais fracos. Uma sociedade será tanto mais avançada e progressista quanto mais cuidar e proteger os seus elementos mais vulneráveis.

A AMCP espera que legalização da eutanásia seja rejeitada no próximo dia 20 de fevereiro na AR. É urgente humanizar o fim de vida. Todos nós devemos exigir que o Estado não se demita de oferecer aos doentes com doenças ameaçadoras para a vida e às suas famílias os cuidados paliativos de que necessitam. Só deste modo se constrói uma sociedade solidária e compassiva, dignificando a vida humana independentemente das suas circunstâncias.

 

Lisboa, 13 de fevereiro de 2020