Samaritanus Bonus apresentada na teoria e na prática

O assistente espiritual da AMCP, o padre e médico Miguel Cabral, e o médico António Santos de Castro, que presta serviço de voluntariado médico em Chelas, na casa da congregação das Missionárias da Caridade, foram os convidados da sessão organizada na noite de ontem pelo núcleo de Lisboa da AMCP.

 

A sessão-conferência decorreu online e foi das mais participadas de sempre, com mais de 85 participantes. Com o formato digital, de novo houve possibilidade de se juntarem aos associados médicos e estudantes da AMCP, outras pessoas de várias formações e profissões e de diferentes zonas do país.

 

O padre Miguel Cabral apresentou a "Samaritanus Bonus - Sobre o cuidado das pessoas nas fases críticas e terminais da vida", da Congregação para a Doutrina da Fé, enriquecendo a apresentação da carta com o seu testemunho pessoal de médico mas sobretudo de doente, uma vez que no final do ano que passou teve covid-19.

 

O sacerdote elogiou a forma da carta, no sentido de o texto ter “linguagem clara, sem ambiguidades”, uma “temática atual, relacionada com o fim de vida” e ter “aplicação prática”, mas sobretudo o conteúdo: que fala e mostra “a fé que se movimenta na caridade e que caminha na esperança”.

 

Em jeito de síntese o diretor espiritual da AMCP destacou três elementos essenciais que encontrou na carta da Congregação para a Doutrina da Fé, documento que considera que deveria ser “obrigatoriamente lido por médicos e outros profissionais da saúde”. Referiu em primeiro lugar a vulneralidade da pessoa, ainda mais sentida na condição de doença. Em segundo lugar, referiu a importância de “não estarmos sozinhos na doença”, apelando por isso à necessidade de cada pessoa cuidar ao longo da vida das relações familiares e de amizade, "para nos momentos de maior sofrimento não nos sentirmos abandonados", porque a família e os amigos nunca nos deixam sentir assim.

 

Em terceiro lugar focou a importância “de termos uma dimensão transcendente da vida, uma ligação vertical (com Deus)", para que enquanto doentes "sintamos a presença de Deus no nosso coração e na vida". “Estar doente com fé e melhor do que estar doente sem fé”, assegurou, com base na sua própria experiência recente.

 

Aos médicos disse que devem começar por ser sempre excelentes profissionais da medicina e depois bons católicos, dando o seu testemunho junto dos colegas de serviço e sobretudo  "aplicando o Evangelho aos problemas médicos", “curar sempre se for possível e cuidar sempre”. “É preciso estar junto dos doentes, estar na cruz, como Maria e os apóstolos. É preciso ser presença de Cristo junto da pessoa doente”.

 

Igreja olhada como hospital de campanha

 

A metáfora apresentada pelo Papa Francisco de uma Igreja olhada como hospital de campanha, foi lembrada e mostrada de forma comovente no testemunho do médico António Santos e Castro, que presta serviço de voluntariado  desde início de outubro de 2020 na casa de Chelas das Missionárias da Caridade, a congregação fundada por Santa Teresa de Calcutá, que trabalha para os mais pobres e excluídos da sociedade.

 

O médico, que ali se desloca "duas a três vezes por semana, ou quando é preciso, a que hora for”, diz estar a ter “uma experiência muito boa e feliz”, que está a contribuir para a sua “formação interior e como católico”. António Santos e Castro elogiou o grupo de voluntários que ali trabalha nas mais diversas tarefas, a forma como os residentes são tratados e como se tratam entre si, “a forma de lidar, tratar, ajudar".

 

Nas missionárias encontra testemunho de “dedicação e de alegria”. “As pessoas sentem-se queridas, amadas”. “Há ali muita graça de Deus”, concluiu.

 

10 de março de 2021